terça-feira, 15 de novembro de 2016

A saúde dos pais, digo, das mães!

Olá pessoal!
Final de semestre chegando, enquanto uns pensam em compras de Natal e preparativos pro ano novo (que venha logo, por favor!), outros se preparam para o corre-corre do final de semestre.
Esse é o meu caso. Quando o semestre adentra a segunda metade de outubro as coisas viram de pernas pro ar.
Na verdade sentei para escrever um artigo que meu orientador está esperando há um bom tempo e resolvi pesquisar algumas coisas a respeito da saúde dos pais, em especial da mães, em seu período pós parto e aí resolvi escrever estas linhas.
Acredito que esse tema deva ser um dos mais pesquisados pelas mães, especialmente as de primeira viagem ou as que tem um filho próximo do outro como aconteceu aqui em casa.
Há algum tempo comecei a orientar uma estudante do curso de Educação Física da UCS/Bento que chegou com uma ideia muito boa. Como minha área de estudos é Saúde Coletiva e Epidemiologia ela propôs um projeto para investigarmos se existia uma relação entre a percepção da qualidade de vida (incluindo sintomas de depressão pós parto) no período de pós parto (puerpério) e a prática regular de exercícios físicos durante a gestação.
Naturalmente existem alguns impedimentos metodológicos que não nos permitem afirmar se há ou não uma relação direta entre praticar exercícios na gravidez e a qualidade de vida no período do puerpério. Dentre elas, o fato de investigarmos pouco mais de 20 mulheres.
De todo modo, os dados estão sendo analisados, o relatório está sendo escrito e o artigo será publicado no próximo ano em uma revista da área de saúde coletiva.
O legal foi identificar algumas questões que desmontam as teses de muitos palpiteiros de plantão e blogs de "aconselhamento materno".

Eis algumas delas:

1 - Ser mãe de primeira viagem não é sinônimo de pior percepção de qualidade de vida no puerpério. Em nosso estudo, as mães de primeira viagem que se mantiveram fisicamente ativas durante a gestação apresentaram melhores escores de qualidade de vida no puerpério quando comparadas às sedentárias (independente de ser a primeira gestação ou não);

2 - Gravidez gemelar produz mais insegurança na mãe do que ter dois filhos muito próximos. Relatos de puérperas de gravidezes gemelares em nosso estudo, deram conta de que os sintomas do período conhecido como Baby Blues (cerca de 14 dias em que ocorrem alterações de humor e certa aquela melancolia, especialmente nos momentos de maior estresse nos primeiros dias após o parto) foram mais intensos quando comparados à mulheres que tiveram filhos com intervalo inferior a 24 meses;
3 - Ser multípara (mais de uma gestação) não é garantia de isenção de sintomas de depressão pós parto. A experiência pode ser um fator de proteção, porém, cada gestação é única. Em nosso estudo, observamos que as multíparas que realizaram exercícios físicos durante a gestação apresentaram melhor qualidade de vida e menores sintomas de depressão pós parto. Todavia, é prematuro afirmar que ter mais que um filho e fazer exercícios físicos na gestação podem eliminar qualquer possibilidade de sofrer com a depressão pós parto.

Até aí tudo ok. O estudo estava se encaminhando e os resultados estavam surgindo. O fato é que nesse meio tempo li um livro muito interessante sobre o feminismo além da redes sociais (#Meuamigosecreto - Feminismo Além das Redes - Edições de Janeiro). Esse livro é de um coletivo de autoras chamado Coletivo Não Me Khalo e uma das partes que mais me chamou atenção em toda a temática feminista contida no livro é a que fala sobre as questões associadas à insalubridade da maternidade, as quais podem estar relacionadas ao mito de que "toda mulher sonha em ser mãe" e por isso qualquer pensamento e/ou ação devem ser direcionados para o bem estar da prole. Nessa horas a primeira coisa que me vem à cabeça são aquelas pessoas que não tem filhos querendo ensinar o bê-a-bá da educação. Aff!
Há não muito tempo atrás o biólogo evolucionista Richard Dawkins elaborava sua tese mais famosa, a do Gene Egoísta, cujo livro lançado em 1979 foi e continua sendo um dos livros científicos mais vendidos em toda a história. Em sua teoria, Dawkins reitera que as mães (especialmente falando das fêmeas não humanas) tendem a preterir seus filhotes que apresentam menor possibilidades de perpetuar seus genes (fracos, doentes, mal nutridos, etc...) e isso pode ser visto facilmente em ninhadas de diferentes espécies animais tais como ratos, cachorros, ovelhas e por aí vai.
Mas porque estou escrevendo tudo isso?
Simples. Depois que os filhos chegam em nossas vidas, uma das coisas mais comuns são as rodas de conversas e fóruns sobre aconselhamento educacional na internet. É aquela sensação predominantes de que sempre estamos fazendo algo errado com nossos filhos e que a culpa é nossa única companhia.
Eu mesmo, dias atrás olhei pra Helena e falei pra Mari, nossa babá:
"Mari, eu passo mais tempo com minha mochila nas costas indo trabalhar do que com meus filhos!"
E saí de casa com lágrimas nos olhos, direto para o trabalho.
Mas a verdade é que boa parte da sensação de "dever não cumprido" que temos com a criançada se retroalimenta por nossos próprios pensamentos e abnegações. A autoflagelação deve ser cada vez mais intensa e quanto menos pensarmos em nós - nem que seja para ir ao banheiro sossegado - melhor.
Será que esse comportamento será revertido em algo saudável para nossos filhos? 
Como será que eles se comportarão quando forem pais/mães de alguém?
A verdade é que não é fácil conciliar filhos, família, trabalho, estudos, contas para pagar e torcer pro time não ser rebaixado no brasileirão.Mas fica ainda mais difícil se enxergarmos a coisa de um modo  inflexível, seguindo mantras da educação moderna que nos colocam no papel de algozes do destino de nossos próprios filhos. Como se tudo de ruim que um dia possa a vir acontecer, será em função de que em um tempo passado, não muito distante, não estávamos lá de prontidão para dar um afago tranquilizador em nossa prole.
Sim, podemos educar bem nossos filhos, com base em valores de solidariedade e justiça e ao mesmo tempo ficarmos de papo com nosso vizinho.
Sim, podemos educar cidadãos éticos e tolerantes que um dia saberão votar em pessoas também idôneas e ao mesmo tempo sentarmos para ler um bom livro.
Só para finalizar, gostaria de compartilhar um texto que viralizou na internet e que fala exatamente sobre a libertação necessária que precisamos proceder para sermos mais felizes criando e educando nosso filhos.
Embora longa, a leitura vale muito a pena.
Um forte abraço a todos.
Roges e família.


 Sanidade materna
Ando preocupada com a sanidade materna. Eu entro nos grupos e, num primeiro minuto, já consigo perceber o tanto de mãe exausta à beira da loucura. Exaustão por passar o dia catando brinquedos o dia todo. Um dos princípios do método montessoriano é a organização do espaço. Uma culpa avassaladora por não conseguir pagar uma escola montessoriana, que custa, no Brasil, por volta de mil reais. Um medo enorme de não colocar o colchão da criança no chão porque, segundo Montessori, TEM QUE ser no chão. Até se você fizer cama compartilhada. Na casa, tem lacraia. A criança precisa ter autonomia. É bom ter um cantinho na sala preparado para a criança com brinquedinho na estante, tapete pra ioga e mesinha (de material natural, por favor). Tudo precisa estar ao alcance da criança. Só que não há espaço em casa pra isso. O banheiro tem que estar adaptado ou o desfralde não vai ser tranquilo: banco, redutor de vaso, estante baixa pra ter tudo ao alcance das mãos. Na cozinha, torre de aprendizagem, mesa baixa, armário baixo com lanchinhos pra favorecer a autonomia e geladeira com comidinhas na porta pra criança conseguir se alimentar sozinha. Ganhar brinquedo de plástico de parente? Não pode. Por que os parentes existem? Eles atrapalham o método perfeito cheio de elementos naturais. Não pode tapete de EVA nem adesivo na parede. Tudo muito colorido. Atrapalha a concentração. Tem que amamentar pra sempre. Até a criança não querer mais e você se sentir péssima, cansada, enjoada, mas disfarçar através de compartilhamento de posts sobre “como amamentar pra sempre faz bem”. E tem que abraçar na hora da birra. Você não pode ter seus sentimentos. Tudo é voltado pra criança. Só ela importa. Você, não. Se usar chupeta ou mamadeira, você é um monstro sem coração que OPTOU por prejudicar a dentição e a respiração do próprio filho. Momento drama: e vai ter que lidar com o trauma do “deschupetamento”. TV? Nunca! Nunca, nunquinha. Invente mil brincadeiras, cozinhe tudo natural, amamente pra sempre, TV desligada, sem chupeta, ambiente organizado e preparado pra criança, não se descontrole, mantenha a calma, dê autonomia pra tudo. E limpe tudo sozinha depois. E fique exausta. E odeie a maternidade. E finja que nada disso tá acontecendo. E poste muitas fofuras no Facebook pra esconder a mãe infeliz que está por trás daquela criança feliz.
Eu não quero métodos que me aprisionam. Educar para a paz e para a liberdade não é seguir uma bíblia com sim’s e não’s. Ter paz e liberdade é fazer o que é possível pra não enlouquecer pra que seus filhos tenham, de fato, uma mãe feliz. Infelizmente, a responsabilidade pelos filhos acaba caindo nas costas da mãe. Por mais participativo que o pai seja, não vejo pais em grupos, páginas, discutindo com os amigos sobre cocôs, vômitos e atividades montessori. Vejo mães preocupando-se com tudo, sozinhas, cansadas. A solidão, a culpa e a busca pela perfeição invadem as casas de tal forma que mulheres-mães estão adoecendo por conta dessa cobrança, por causa de métodos inflexíveis e teorias inalcançáveis.
Eu faço o que posso fazer. Amamentei até 2 anos e eu decidi desmamar. Conduzi o desmame respeitando o meu filho, dando amor e, sobretudo, respeitando os meus limites. Cozinho muito, todo dia, toda hora. Mas, às sextas, canso. Peço pizza. Sim, eu tenho direito de jogar tudo pro alto depois de uma semana cansativa. E você também tem. Tem muita brincadeira, mas também teve TV depois de 2 anos porque eu preciso limpar a casa, fazer comida, tomar um café sossegada. Meus filhos sempre tiveram autonomia em casa. Eles sabem que a casa é deles e tudo aqui é nosso. Dormem em beliche. E tudo bem. É tanta autonomia que o pequeno sobe lá na cama de cima e sabe descer sozinho, rs. Fazer o quê? Ajudar. Ensinar. Comprei o redutor pra vaso. Quem disse que ele quis? Não quis. Nunca usou. Joguei dinheiro no lixo. Senta sozinho no vaso segurando com as próprias mãos. Desfraldou do nada, do dia pra noite. Chupou chupeta com os limites que estabeleci. Um dia a chupeta sumiu de verdade. Avisei que a chupeta tinha sumido. Ficou triste na hora, mas passou. Aceitou melhor que eu. Vai ter dentes tortos? Não sei. Não gostaria que tivesse, mas, se tiver, terei certeza de que fiz o que pude. Preferi que ele tivesse chupeta nos momentos da soneca ao invés de uma mãe enlouquecida. Só aceitei o BLW porque ele não aceitava colher. Suja tudo. Eu sou sozinha aqui durante o dia. Tenho outro filho que chega da escola com fome e precisa de comida no prato. Horrível ter um bebê todo melecado, o chão da sala imundo e outro filho chegando da escola com fome e eu sem saber por onde começar. Temos brinquedos de todos os materiais: naturais e plásticos. Todo presente é bem vindo e, mais importante que brincar com brinquedo de fibra natural, é valorizar um presente dado carinhosamente por alguém que os ama. Meu filho estuda numa escola tradicional, católica, porque é a que cabe no meu bolso, é perto de casa. Não vou submetê-lo ao trânsito caótico da minha cidade pra ter uma educação “diferentona”. Se estou satisfeita com a escola? Não, mas foi o possível. O critério é: tem que ser perto e caber no meu bolso. Prefiro a minha maternidade possível à maternidade idealizada e triste. Meus filhos são importantes, mas eu também sou. Preciso estar saudável pra cuidar deles. Prefiro a honestidade de não seguir nenhum método à risca ao adoecimento causado por “regras” impossíveis.
Mulher, você é maravilhosa. Permita-se não enlouquecer. Permita-se não cair em depressão. Permita-se ser feliz e aproveitar a maternidade enquanto seus filhos estão pequenos. O tempo voa. Quando você menos esperar, eles estarão grandes e não vão mais querer segurar sua mão pra atravessar a rua. Ao invés de catar brinquedo o dia todo, beije seus filhos e refresque sua cabeça tomando um café quentinho olhando pro céu. Ao invés de morrer de culpa, viva a maternidade como você pode, dentro das suas possibilidades. Você não deve explicação a ninguém. Ao invés de seguir qualquer método ou teoria à risca, saiba que tudo precisa ser flexível pra que a gente não perca o pouco de sanidade que nos resta. A vida já é tão cheia de obstáculos… Por que se preocupar com um tapete colorido demais? Eu juro que isso não vai fazer do seu filho uma pessoa menos concentrada. Brinque, beije a barriguinha deles, sinta muito o cheirinho do sovaquinho, “morda” os pezinhos de pãozinho. Nenhuma teoria vai fazer o seu filho mais feliz, mais independente, mais esperto, mais concentrado, mais livre. Não torne a sua maternidade o produto de uma bíblia imutável. Esqueça esse combo que você comprou sem nem ter ideia de que ele tornaria seus dias verdadeiros pesadelos de onde você não consegue fugir. Seu filho só vai aprender a ter autonomia se você tiver. Tome as rédeas! Nenhum grupo de Facebook conhece sua realidade, suas necessidades e seus limites. Criança reflete o que vive. Seja feliz.
Imagem: foto minha, da minha estante. Enquanto eu escrevo, o que é um hobby que amo, ele bagunça tudo. E eu não vou arrumar. Daqui a pouco vou pedir pizza de quatro queijos. Tô vivendo. Vivam também. Sobreviver não é suficiente.
Obs.: Não estou defendendo chupeta, mamadeira, indústria alimentícia, brinquedo de plástico ou TV. Estou defendendo a sanidade materna.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Diálogos com o Vicente - parte II

Olá pessoal!

Quando o Vicente era bem menor, eu torcia para ele começar a falar e se comunicar conosco. Acho que isso é o desejo de todos os pais que convivem com o desenvolvimento de seus pequenos.
Ele cresceu, aprendeu a falar...e não para mais!
O mais intrigante é que em momentos em que ele se encontra afoito ou super animado bate uma gagueira medonha. Às vezes as palavras ficam vários segundos arranhando até saírem por completas.
Tudo isso é normal e podemos notar que a gagueira some em alguns momentos.
Mas apesar das dificuldades transitórias de comunicação, Seu Vicente não se acanha e solta o verbo!
Papai, olha aqui!
Mamãe, vem brincar comigo!
Tata, vamos montar quebra cabeça!
E assim ele passa o tempo conosco. Falando, imitando musiquinhas, contando histórias que ouve na hora do conto pra ele mesmo, dialogando sozinho com seus amiguinhos da escola.
Às vezes, ele sai com umas pérolas. Outras, com algumas palavras que os adultos repetem :(
Abaixo alguns momentos do Vicente conversando conosco.
 ___________________________________________________________________


O Homem na Lua

Mara: Vi, você sabia que já teve gente que foi  lá na lua?
Vicente: É?!?!?!
Mara: Sim, com uma espaçonave.
Vicente: Um fuca?
Mara: Não amor, uma espaçonave, bem grande que voa!
Vicente: Ai que m****! :(

_____________________________________________________________________

Cerveja

Eu: Mara, eu tava a fim de tomar uma cerveja hoje à noite!
Vicente: Eu também quero uma cerveja.
Eu: (Risos contidos) Amor, não dá. Isso é coisa de adulto.
Vicente: Ai minha nossa

________________________________________________________________________

Impressões sobre o trabalho

Vicente: Tata, tu não vai trabalhar e nem pra escola?? (Ele nos vê todos os dias saindo de casa e dizendo que vamos trabalhar, deve associar que a tata não trabalha porque fica em casa com ele e a Helena).

________________________________________________________________________

Preferências musicais

Eu: Vi, vamos ouvir um som? (indo pra escola)
Vicente: Sim, Matanza!
Eu: Matanza não tem amor. Pode ser o Ursinho Pimpão?
Vicente: Hum...não.
Eu: Então o que você quer ouvir?
Vicente: Kinder Ovo :(

________________________________________________________________________

Observação aguçada

Vicente: Papai, o Chico Bento faz cocô?
Eu: Sim, meu bem. Todo mundo faz.
Vicente: Não, ele só faz xixi (nas historinhas o personagem só aparece fazendo xixi)

_______________________________________________________________________

Vergonha alheia

Eu: Vi, vem aqui comigo e a mana...vamos dançar!
Vicente: Não. Não dança!
Eu: Então vem cantar com a gente aqui (estava com a Helena no colo cantando uma música da Galinha Pintadinha)
Vicente: Chega papai!

Eu: Vem aqui filho!
Vicente: Ai papai, só assiste!

_______________________________________________________________________

A arte da barganha

Eu: Vicente, vamos escovar os dentes e trocar de roupa que eu vou te levar pra escola hoje (no momento em que caía um toró)
Vicente: Papai, que tal fosse assistir tv e comer uma pipoca?
Eu: Não amor, vamos pra aula.
Vicente: Hoje é folga. Vamos assistir tv?

______________________________________________________________________

Saudade

Mara: Vamos deitar Vi. Tá na hora de dormir.
Vicente: (levando junto uma foto 3x4 minha) O Papai pode dormir com a gente? Eu gosto tanto de dormir tanto com o papai.

Diálogos com o Vicente - parte II

Olá pessoal!

Quando o Vicente era bem menor, eu torcia para ele começar a falar e se comunicar conosco. Acho que isso é o desejo de todos os pais que convivem com o desenvolvimento de seus pequenos.
Ele cresceu, aprendeu a falar...e não para mais!
O mais intrigante é que em momentos em que ele se encontra afoito ou super animado bate uma gagueira medonha. Às vezes as palavras ficam vários segundos arranhando até saírem por completas.
Tudo isso é normal e podemos notar que a gagueira some em alguns momentos.
Mas apesar das dificuldades transitórias de comunicação, Seu Vicente não se acanha e solta o verbo!
Papai, olha aqui!
Mamãe, vem brincar comigo!
Tata, vamos montar quebra cabeça!
E assim ele passa o tempo conosco. Falando, imitando musiquinhas, contando histórias que ouve na hora do conto pra ele mesmo, dialogando sozinho com seus amiguinhos da escola.
Às vezes, ele sai com umas pérolas. Outras, com algumas palavras que os adultos repetem :(
Abaixo alguns momentos do Vicente conversando conosco.
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O Homem na Lua

Mara: Vi, você sabia que já teve gente que foi  lá na lua?
Vicente: É?!?!?!
Mara: Sim, com uma espaçonave.
Vicente: Um fuca?
Mara: Não amor, uma espaçonave, bem grande que voa!
Vicente: Ai que m****! :(

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Cerveja

Eu: Mara, eu tava a fim de tomar uma cerveja hoje à noite!
Vicente: Eu também quero uma cerveja.
Eu: (Risos contidos) Amor, não dá. Isso é coisa de adulto.
Vicente: Ai minha nossa

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Impressões sobre o trabalho

Vicente: Tata, tu não vai trabalhar?? (Ele nos vê todos os dias saindo de casa e dizendo que vamos trabalhar, deve associar que a tata não trabalha porque fica em casa com ele e a Helena).

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Preferências musicais

Eu: Vi, vamos ouvir um som? (indo pra escola)
Vicente: Sim, Matanza!
Eu: Matanza não tem amor. Pode ser o Ursinho Pimpão?
Vicente: Hum...não.
Eu: Então o que você quer ouvir?
Vicente: Kinder Ovo :(

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Observação aguçada

Vicente: Papai, o Chico Bento faz cocô?
Eu: Sim, meu bem. Todo mundo faz.
Vicente: Não, ele só faz xixi (nas historinhas o personagem só aparece fazendo xixi)

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Vergonha alheia

Eu: Vi, vem aqui comigo e a mana...vamos dançar!
Vicente: Não. Não dança!
Eu: Então vem cantar com a gente aqui (estava com a Helena no colo cantando uma música da Galinha Pintadinha)
Vicente: Chega papai!

Eu: Vem aqui filho!
Vicente: Ai papai, só assiste!

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A arte da barganha

Eu: Vicente, vamos escovar os dentes e trocar de roupa que eu vou te levar pra escola hoje (no momento em que caía um toró)
Vicente: Papai, que tal fosse assistir tv e comer uma pipoca?
Eu: Não amor, vamos pra aula.
Vicente: Hoje é folga. Vamos assistir tv?

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Saudade

Mara: Vamos deitar Vi. Tá na hora de dormir.
Vicente: (levando junto uma foto 3x4 minha) O Papai pode dormir com a gente? Eu gosto tanto de dormir tanto com o papai.

domingo, 14 de agosto de 2016

Sem os filhos não há dia dos pais

Durante os 36 primeiros anos da minha vida, o segundo domingo de agosto era um dia melancólico.
Agora não é mais.
Eu diria que nos últimos 3 anos, esse mesmo domingo tem começado com a letra A.
A de agitado.
A de apaixonante.
A de alegria total.
Faz 3 anos que o Vicente chegou na nossa vida e pouco mais de 7 meses que a Helena veio encher de graça nossos dias. Particularmente, nunca fui tão feliz e também nunca estive tão enganado.
Até poucos anos não acreditava ser capaz de educar uma criança.
Motivo? Simples...meu pai nunca esteve comigo!
Meu pai foi ausente a vida toda. Nunca perdeu uma noite de seu rico sono com minhas febres ou com minhas cólicas. Em raros momentos nos aproximamos -sempre pela minha iniciativa- e se eu não atuasse firmemente para manter essa "proximidade" a distância imperava.
Assim a coisa degringolou. Hoje ele não faz mais parte da minha vida e consequentemente da dos meus filhos. Haverá um dia em que eles perguntarão do vô paterno e eu terei que ser franco em responder que ele nunca fez questão de fazer parte da vida deles.
Uma pena.
 Meus filhos, particularmente o Vicente, me ensinaram que o modelo de educação que tive na infância não é necessariamente aquele que eles receberão. Ainda bem!
Mas esse texto não tem a intenção de ser triste.
Ao contrário. O que me motivou escrever estas linhas ao mesmo tempo em que assisto o Usain Bolt ser medalha de ouro nos 100m rasos no Rio 2016 é o fato de que pela primeira vez ganhei um presente de dia dos pais feito pelo Vicente.
Que orgulho!
Que emoção!
Uma medalha de Super Pai e um acessório para pendurar no vidro do carro com os dizeres: "Cuidado! Melhor pai do mundo a bordo" com uma mão do Vicente pintada. Fiquei emocionadíssimo. Ideia genial das profes da Escola de Educação Infantil Bambini, onde ele estuda.
No meu tempo - e isso faz tempo - as profes diziam:
"Hoje vocês vão fazer e pintar um desenho para dar de presente para os seus pais!".
Pintávamos gravatinhas em uma folha A4 e eu achava isso muito esquisito. Primeiro porque na época eu nem conhecia meu pai e segundo porque meu avô (que me educou) e meus tios não usavam gravata. Vai entender né.
Ontem pela manhã fui acordado de modo bastante sutil. Sim, o Vicente é bastante cavalheiro ao acordar a gente.
- Papai, olha!
Quando abri os olhos ele estava segurando a medalha e dizendo: "Põe!"
Passei o sábado todo com a medalha no pescoço e quando tirava ele me cobrava para recolocá-la imediatamente.
Ser pai é um presente.
Ser pai presente é a coisa mais digna que um homem pode fazer em sua trajetória, pois são seus filhos.
Sangue do seu sangue.
Parte dele próprio.
Parte de seu DNA que é passado adiante para as próximas gerações que povoarão e mudarão esse mundo injusto em que vivemos.
Um mundo onde milhões de crianças com pais vivos não podem comemorar esse dia tão belo pelo simples fato de que um adulto covarde se negou a aceitá-la como parte de sua história ou a tratou como um "acidente de percurso".
Para quem acha que ajuda apenas porque troca fralda, cuida durante a noite quando se está doente, leva ao médico, dá banho, só tenho a dizer que lamento muito pela sua visão obtusa de paternidade.
Isso não é nada mais do que a simples responsabilidade, afinal de contas, sem filhos não haveriam os pais.
Um forte abraço aos pais de verdade.
Roges e família

domingo, 24 de julho de 2016

Tecnologias, Educação e Crianças...

Não é difícil encontrar, especialmente em restaurantes, pais que liberam seus telefones aos filhos para que naveguem pela internet e assim possam fazer suas refeições em paz.
Confesso que isso funciona bem!
Só para deixar claro, não sou contra que crianças usem tecnologias para terem novas vivências. Existem bons exemplos de como a tecnologia pode servir como coadjuvante em vários aspectos educacionais de crianças. As principais vantagens constatadas na utilização de recursos tecnológicos na educação com os alunos são:
  • despertar da curiosidade
  • aumento da criatividade, principalmente nos casos de utilização no auxilio à aprendizagem de crianças deficientes
  • uma ferramenta poderosa no auxílio do aprendizado, como por exemplo a utilização de softwares educacionais (multimídia)

     Naturalmente, existem também as desvantagens, como uma provável superexposição dos nossos pequenos, especialmente se fazem uso de redes sociais e a dificuldade de abstração do conteúdo visto, ou seja, a possibilidade de que um conteúdo considerado impróprio ou não indicado para a idade venha a se tornar uma má influência comportamental dos nossos filhos.
    Honestamente penso que a tecnologia é um caminho de mão única avançando a passos largos para o uso cada vez mais frequente em todos os ambientes. Eu mesmo já fiz algumas experiências com meus alunos no ensino superior, utilizando um aplicativo (Socrative) o qual é destinado a realizar avaliações de conhecimento: elaborei algumas questões de prova que deveriam ser respondidas pelo aplicativo. Meu telefone recebia em tempo real as respostas dos alunos e já enviava uma planilha em formato excel para os email previamente cadastrados dos mesmos, para que pudessem ter ideia do seu aproveitamento. A experiência resultou em um relato de experiência, que foi submetido à uma revista especializada da área. 
    Na visão de boa parte dos alunos, foi uma bela experiência. "Inovadora" foi a definição mais utilizada. 
    Ao meu ver: uma avaliação capenga...mas que brilha os olhos de quem gosta de tecnologia. 
    É claro que as experiências devem ocorrer, afinal de contas as gerações apresentam características comportamentais diferentes e se a educação - e os educadores - conseguir acompanhar essas tendências contemporâneas, todos saem ganhando.
    Não obstante, o que está sendo feito na Finlândia, onde a escrita manual está sendo substituída pela escrita em tablets/notebooks (leia aqui) não me agrada. Acredito piamente que a restrição à utilização da escrita manual traga consigo algumas limitações no campo da motricidade fina e no desenvolvimento da linguagem simbólica por parte das crianças. Só o tempo poderá nos dizer a magnitude das contribuições e das consequências dessa inovação finlandesa.
    A escola que o Vicente frequenta costuma desenvolver projetos educacionais muito legais no transcurso do ano letivo.
    O projeto deste trimestre, bastante oportuno diga-se de passagem, é voltado ao uso racional das tecnologias. Na verdade acho que o título do projeto não é bem esse, mas prefiro acreditar que o objetivo seja essa conscientização e reflexão do uso das tecnologias (notebook, tablets, smartphones) tanto pelos pais quanto pelos alunos.
    Após um breve levantamento do uso de tecnologias das crianças, a escola propôs o Dia Sem Tecnologia: dia em que os pais que decidissem aderir à proposta deveriam proporcionar e participar conjuntamente de atividades que as crianças gostam...sem tecnologias.
    A proposta vem ao encontro da necessidade de gerenciar a quantidade e a qualidade do que nossos filhos assistem/jogam na internet. O Vicente, por exemplo, adora acessar o YouTube para assistir vídeos de trenzinhos de brinquedo. Peppa Pig, Relâmpago McQueen e assemelhados também tem sua atenção.
    Até pouco tempo atrás essa fascinação pelo telefone e consequentemente pela internet incomodava a mim e a Mara. Da fato ele passava bastante tempo "preso" naquela programação, especialmente em momentos antes de dormir. Tirar o telefone dele era bastante complicado e muitas vezes essa ação acabava em choro. Resultado: sono agitadíssimo.
    Hoje ele está maior, entende certas coisas com mais facilidade e vivencia uma gama muito grande de atividades tanto na escola quanto em casa e tem dias que ele simplesmente não faz uso do telefone para essa finalidade.
    Tenho em mente que essa nossa preocupação em restringir o acesso do Vicente à internet não é compartilhada por todos os pais. Cada um educa seu filho da maneira como lhe convém.
    A questão é mais abrangente: nossos filhos são os adultos de uma próxima geração. Uma geração que já nasce exposta. Tiramos fotos de nossos filhos antes mesmo de nascerem (na ultrosonografia) e publicamos no Instagram.
    Durante todo seu crescimento e desenvolvimento, a cada dentinho que nasce, cada tombo de bicicleta, cada gol na escolinha, sempre há um bom motivo para registrarmos o momento...e compartilharmos.
    Observando esse comportamento, que provavelmente será repetido pelos nossos filhos, a escola lançou o segundo ponto chave da proposta: uma campanha de conscientização voltada à segurança de nossos pequenos,especialmente na internet.
    Aqui em casa o Vicente gosta mesmo é do YouTube, mas isso não nos isenta de cuidados futuros e aproveitamos o Dia sem Tecnologia para fazermos atividades que ele gosta e até mesmo algo novo. Rolou desde montagem de blocos, passando pela ajuda na limpeza dos brinquedos guardados e terminando com a leitura do primeiro Best Seller (gibi do Chico Bento) do Vicente.
    Ao final da noite, momentos antes de dormir, Seu Vicente pediu cheio de delicadezas - daquelas que convencem qualquer um a fazer um negócio contra a vontade - para ver o Tutu (Thomas e seus amigos no YouTube).
    Nos rendemos a ele.
    O dia foi "quase" sem tecnologia, mas valeu a pena.
    Passar um tempo com as crianças, fazê-las experienciar novas situações é sem dúvida, um belo projeto, uma bela iniciativa.
    Forte abraço a todos.
    Roges e família.





    terça-feira, 12 de julho de 2016

    Há exatos 3 anos atrás...

    O teu riso - Pablo Neruda

    Tira-me o pão, se quiseres,
    tira-me o ar, mas não
    me tires o teu riso.

    Não me tires a rosa,
    a lança que desfolhas,
    a água que de súbito
    brota da tua alegria,
    a repentina onda
    de prata que em ti nasce.

    A minha luta é dura e regresso
    com os olhos cansados
    às vezes por ver
    que a terra não muda,
    mas ao entrar teu riso
    sobe ao céu a procurar-me
    e abre-me todas
    as portas da vida.

    Meu amor, nos momentos
    mais escuros solta
    o teu riso e se de súbito
    vires que o meu sangue mancha
    as pedras da rua,
    ri, porque o teu riso
    será para as minhas mãos
    como uma espada fresca.

    À beira do mar, no outono,
    teu riso deve erguer
    sua cascata de espuma,
    e na primavera, amor,
    quero teu riso como
    a flor que esperava,
    a flor azul, a rosa
    da minha pátria sonora.

    Ri-te da noite,
    do dia, da lua,
    ri-te das ruas
    tortas da ilha,
    ri-te deste grosseiro
    rapaz que te ama,
    mas quando abro
    os olhos e os fecho,
    quando meus passos vão,
    quando voltam meus passos,
    nega-me o pão, o ar,
    a luz, a primavera,
    mas nunca o teu riso,
    porque então morreria.


    Há exatos três anos atrás estávamos no hospital esperando o dia mais importante de nossas vidas.
    Estávamos esperando o Vicente.
    Ansiedade para ver o rostinho, as mãozinhas, os pezinhos!
    Vicente nasceu em uma manhã ensolarada de um dia 12 de julho, mesmo dia em que nasceu Pablo Neruda, o homem cujas palavras por muitas vezes rechearam de emoção os bilhetes apaixonados que a Mara e eu trocávamos logo no início do nosso namoro.
    Coincidência?
    Eu diria afinidade!
    Com seu jeito observador e sensível - como Neruda - não sei precisar quantas vezes me peguei pensando em minhas atitudes nem quanto esse menino mudou minha vida. 
    Só sei dizer que muitas vezes chorei e muitas outras sorri e gargalhei com ele ao meu lado. 
    Com ele e por ele tive que aprender a reconduzir minha vida. 
    Tive minha experiência paterna ao vivo, in loco com o Tente (o apelido carinhoso que demos a ele) e não foram poucas as vezes que tive que parar e refletir sobre nossa relação. Não foram poucas as vezes que parei para pensar em como não ser um pai ausente, autoritário, arbitrário e intransigente. 
    Vicente está crescendo, se desenvolvendo, falando e se tornando uma das pessoas mais importantes da minha vida. A pessoa que me deu a oportunidade (sim, porque eu não pretendia ter filhos até pouco tempo atrás) de dar e receber amor. 
    Nega-me o pão, o ar, a luz a primavera, mas nunca teu riso meu filho. Porque então morreria.
    Te amo meu filhote.
    Um beijo com o coração cheio de paixão e os olhos marejados de emoção.
    Teu papai Ozes (Roges)
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